domingo, 13 de março de 2011

Liberdade

A impossibilidade humana o faz perder as forças. Sonhos rasos e vidas vazias constroem gerações perdidas. Liberdade vigiada pelos olhos atentos do sistema. E ninguém mais precisa cansar-se pra correr atrás da liberdade. O homem recebe em sua própria cela, sem qualquer esforço, o dom de ser livre. A liberdade adulterada que ninguém percebe nem reclama. Não há devolução. E assim vai fingindo ser livre, vai fingindo viver. Vai se acostumando a ser livre desse jeito, e a perde de vista. Corre sem ter nem idéia de sua direção. Baixa os vidros, e sente o vento. Baixa o teto e corta a mente. Pensar pra que? Se ser livre não me custa nem um pouco? Os tempos são outros... Hoje o mundo inteiro é livre, e também me obriga a ser. Se não for livre como a gente, vai ser preso. E preso assim, não vai fazer mais nada. Vai ficar pensando o dia inteiro, pensar o dia inteiro. Que dor... 
No determinismo feroz, perco toda a minha vida, toda a liberdade. Eu só queria ser eu mesmo, só queria poder dizer o que penso. Que não acho que a ciência seja infalível, que acredito no amor, que odeio economia e política, que dormindo pareces um anjo. Queria apenas lhe mostrar as canções que escrevi. Talvez assim, preso, eu as torne mais comerciais, pra ganhar alguns trocados e o respeito de algumas garotas. Queria fazer um rock. Mas preciso das drogas. Não seria livre o suficiente para o rock.
E assim vão farsando a liberdade, como o homem biônico de um circo abafado. Desfila seu vôo e viaja o picadeiro. Encanta a todos com seu jeito de ser pássaro, mas o número é sua própria gaiola. Tem seu tempo, seu trajeto, seu tormento, seu cárcere. 

Como os meninos que correm essa estrada sem fim, e nunca chegam, nunca chegam. Eu quero apenas curtir o caminho, não quero chegar. Quero ter amigos, quero ter motivos, quero ser absoluto. Ando perdido nesse labirinto relativo. A relatividade me assusta. Nada é de verdade, nada é para sempre. Foi aí que descobri a fragilidade de minha liberdade. Eu queria tanto ter um absoluto, uma certeza, ainda que idiota, mas real. Queria ter regras, tabus, ordens e sanções, pra enfim ser livre. Porque o mundo me diz coisas frias fingindo liberdade. Se o mundo me obriga a ser livre, já não o estou sendo. A única certeza é de que quando a minha liberdade quiser ser ela mesma, serei cerceado. Quanto a tudo isso, sou agnóstico convicto, e livre no país de minha idéia.


Arthur Sampaio

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